quarta-feira, novembro 30, 2005

Vazio

Vazio, o quarto de Fernando Pessoa.

Faz hoje 70 anos que morreu, e com ele morreram também Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares.

Olhando o mar, sonho sem ter de quê

Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?


Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.


As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.


Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.


Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?


Fernando Pessoa

2 Comments:

Blogger BlackSheep said...

Enquanto os Seus poemas forem lidos e relidos, apreciados, "saboreados", Pessoa continuará vivo.

1/12/05 00:24  
Blogger BlackSheep said...

Amen

2/12/05 10:52  

Enviar um comentário

<< Home